Poema de Iacyr Anderson Freitas. Ilustrado com uma fotografia que tirei na Semana Santa.
No último dia
Chegado é o tempo
em que tudo se funde
sobre meu corpo.
O beijo me acusa às milícias
e eu sei
desde muito
que todo beijo é traição.
Conto os que me condenaram
e não compreendo
o assédio das mortes em mim,
o avanço de todas as digressões
contra meu nome,
esse azul que não se curva
diante de nenhum sacrifício.
Contemplo apenas
o que me coube.
Ao sul e ao lago
demovo os fogos
da transfiguração.
Chegada é a hora maior
em que o ar se ajoelha,
em que os numerais se fundem,
em que a trindade
rasura o zero dos milênios, em que
a eternidade inteira se escoa
na proa de um segundo,
em que à sombra de meu nome
os abutres oram e comem.
A hora em que Deus
coloca-se à prova
e compartilha comigo
o fardo
de ser homem.
In: FREITAS, Iacyr Anderson. A soleira e o século. Nankin / Funalfa, 2002.
Que poema profundo...
ResponderExcluirQuerida uma semana iluminada!
Beijinhos...
Lorena Viana
Oi Ana Virgínia,
ResponderExcluirque saudades de você, eu estou numa correria danada arrumando meu ateliê e agora que vi seu post. Você também está sumida. Gostei muito do poema,
muito interessante.
Bejim.